As mudanças de comportamento do consumidor têm levado muitas empresas a rever suas operações. Com uma infinidade de informações disponíveis em uma rápida pesquisa na internet, o cliente chega à loja, muitas vezes, com mais informações sobre o produto que os próprios vendedores.
Eles consomem vídeos de conteúdo, descobrem e checam funções de produtos antes mesmo de comprá-los, comparam preços e compram pelos e-commerces.
E à medida em que esse comportamento de compra se intensifica surgem novos complementos ao varejo digital, como, por exemplo, a modalidade clique e retire – em que se compra no site para retirar a mercadoria na loja física.
Puxado pelo desejo de entrega rápida e pela economia com frete, esse tipo de compra vem sendo ofertado em massa pelas varejistas de qualquer porte.
Com a projeção de que o Brasil terá 60,4 milhões de compradores digitais até 2022 -segundo dados da consultoria global eMarketer -, uma alta de 34,8% ante 2018, os shopping centers já começaram a sentir os efeitos do clique e retire e tentam se adaptar às mudanças no comportamento de compra da clientela.
Para acompanhar essa tendência omnichannel e ciente das dificuldades vividas relacionadas à logística, estoque e o baixo retorno financeiro, grandes grupos de shopping centers estão apostando em marketplaces virtuais – uma espécie de IFood dos shoppings, que funcionam como plataforma de vendas das lojas inseridas em cada empreendimento.
TEMPLO DE CONSUMO
Luiz Alberto Marinho, especialista em shopping centers do Grupo Gouvêa de Souza, diz que até pouco tempo atrás, esses empreendimentos eram vistos com verdadeiros templos de consumo. No entanto, muita coisa mudou. Hoje, eles são vistos como espaço de convivência e conveniência.
De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), somente 37% dos visitantes vão aos shoppings com a intenção de fazer compras. Diversão, socialização, informação e solução de problemas são as demais motivações.
Somado a esse dado, o especialista aponta que os empreendimentos perceberam que o e-commerce atingiu um ponto de inflexão impossível de ser ignorado.
No primeiro semestre de 2018, o e-commerce brasileiro cresceu 12,1% ante igual período do ano passado. Esse aumento representa um faturamento de R$ 23,6 bilhões, de acordo com a Ebit/Nielsen.
Marinho destaca que, há poucas semanas, o Grupo Iguatemi anunciou o lançamento da sua plataforma de vendas online – a 365 Iguatemi.
“O nome já entrega a estratégia: estar disponível para o cliente 24 horas por dia, 365 dias por semana. Antes dele, CCP Cyrella (Shopping Cidade São Paulo) e JHSF (Shoping Cidade jardim) já haviam feito movimento semelhante e outras importantes administradoras de shopping centers estão na fila”, diz.
Estão aí considerados os segmentos que mais impulsionam as compras online –cosméticos, moda e eletrodomésticos -, todos também muito representativos no mix dos shoppings brasileiros.
Nesse sentido, Marinho afirma que os shoppings reúnem todas as características favoráveis para assumir uma nova função e entrar de cabeça no universo das vendas online.
Ele cita o Shopping Mueller, em Curitiba, que selou uma parceria com o James, empresa de delivery, para entrega em domicílio ou escritórios de produtos de suas lojas.
Em Santa Catarina, o Shopping Itajaí, do Grupo Tacla, também transformou um espaço em sua central de administração em um ponto de retirada dos produtos comprados pela internet.
“Eles (pontos de retirada em shoppings) são práticos, próximos e estratégicos para os clientes e aumentam o fluxo de consumidores”, diz.
Em entrevista à revista Forbes, Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), disse que os shoppings basileiros são mais do que centro de compras e podem assumir papel central no desenvolvimento do e-commerce no país, que ainda esbarra em questões de infraestrutura logística.
Humai cita, por exemplo, a boa localização dos empreendimentos, que faria deles “centros de distribuição perfeitos”.
SUPORTE PARA O PEQUENO
Na visão de Nelson Kheirallah, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e coordenador do Conselho de Varejo (CV) da entidade, as vendas online farão parte da realidade dos shopping centers brasileiros em curto prazo.
Kheirallah destaca que os centros comerciais respondem por cerca de 20% do total de vendas no varejo brasileiro e que seria uma boa estratégia passar a vê-los como possíveis centrais de distribuição de produtos, assim como fazem as grandes redes de varejo para acelerar os prazos de entrega de mercadorias compradas pela internet.
A seu ver, essa movimentação é fundamental num momento em que o setor varejista se esforça para integrar os canais online e off-line. Além disso, ele afirma que essa tendência é muito importante para o fortalecimento de pequenos negócios no interior dos centros de compras.
“É natural contar com dez lojas grandes e 150 pequenas, que não têm agilidade logística mas que também podem vender online. Contar com esse suporte colaborativo entre shopping e lojista é vital”, diz.
Fonte: Diário do Comércio